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sexta-feira, 20 de maio de 2011

A tesourinha


Nota: tive a ideia de escrever este texto após ler o ótimo livro "1985 - o ano em que o Brasil recomeçou", de Edmundo Barreiros e Pedro Só.

Em 1985, no processo de abertura política e redemocratização do país, foi anunciado o fim da censura. Muitos festejaram, mas infelizmente, com o passar dos dias, deu pra sacar que o fim da censura era fachada, embora ela estivesse enfraquecida.

Para se ter uma noção, músicas lançadas naquele ano sofreram algum tipo de corte. Destaque para "Só as mães são felizes" (onde os censores pegaram mal com o trecho "Você nunca sonhou/Ser currada por animais/Nem transou com cadáveres?/Nunca traiu teu melhor amigo/Nem quis comer a tua mãe?") e "Revoluções por minuto", do RPM (lembro que vi, numa entrevista, Paulo Ricardo ressaltar que, na época, a censura implicou com o trecho "aqui na esquina cheiram cola").

Mas a censura não atingiu apenas o mundo da música no período pós-ditadura. Algumas telenovelas sofreram cortes. Exemplos não faltam. Um dos maiores sucessos teledramatúrgicos da TV brasileira, Roque Santeiro - que havia sido proibida de ir ao ar em 1975 por causa da já citada censura - foi vitimada pela tesourinha. Tudo porque os censores não gostaram de uma cena de beijo entre uma mulher casada e seu amante, além de tentarem impedir o uso da palavra "bosta", como relata o livro "1985".

Nos anos posteriores, outras novelas viriam a sofrer golpes de tesoura, como Mandala (é, aquela mesmo do "como uma deusa"), de 1987, principalmente por causa da relação incestuosa entre mãe e filho - Jocasta e Édipo - vale ressaltar que os personagens não sabiam de suas respectivas condições - e Vale Tudo, de 1988, onde a censura pegou mal com a existência de um casal de lésbicas na trama - Laís e Cecília - e, por causa disso, várias cenas com as personagens tiveram que ser reescritas.

Voltando para 1985, apesar do anúncio do fim da censura, um fato grave e contraditório aconteceu: o filme "Je vous salue, Marie", do diretor Jean-Luc Godard, foi "extraoficialmente censurado". Explicando: o filme não foi oficialmente censurado, mas, segundo conta o já citado livro que inspirou este post, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) se incomodou com a versão moderna da história do nascimento de Cristo e pressionou o governo a censurar a película. Deu resultado.

Mas aparentemente este quadro está mudando. Recentemente, por exemplo, a novela "Amor e Revolução", do SBT, exibiu um longo beijo entre duas mulheres. E, aliás, tudo indica que um beijo entre dois homens deverá ser exibido na mesma trama.

Apesar de vivermos em uma sociedade onde gozamos de muito mais liberdade do que antigamente, acredito que ainda temos vestígios da censura por aí. Analise bem que certamente você encontrará alguns deles.

*Recomendo a leitura do livro "1985 - o ano em que o Brasil recomeçou"

*Imagem: Google Imagens

segunda-feira, 2 de maio de 2011

"Bin Laden is dead": vitória ou o início de um outro problema?



Ontem, por volta da 1h da madrugada, estava assistindo ao "De Frente Com Gabi". Como o programa havia ido para o intervalo, resolvo mudar de canal. Mudo para a Globo News, esperando ver a reprise do "Fantástico", quando me deparo com a imagem de uma multidão gritando, festejando, agitando as bandeiras dos Estados Unidos. Embaixo da imagem, estava escrito no GC (Gerador de Caracteres)"Americanos comemoram morte de Bin Laden em frente à Casa Branca".

Ainda meio sem saber como havia acontecido a morte do terrorista mais procurado do mundo, resolvo mudar para a Rede Globo, suspeitando que, devido a importância da notícia, o temido plantão global seria exibido a qualquer momento. Dito e feito. Logo de cara, me deparo com o pronunciamento do presidente Barack Obama confirmando a informação: Bin Laden, o terrorista apontado como o mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001, foi morto por militares americanos no Paquistão.

De imediato, começou-se a falar sobre a vitória dos EUA sobre o terror. Mas é impossível não se fazer algumas perguntas diante deste fato: os EUA realmente venceram a guerra contra o terror? Por que a foto de Bin Laden morto ainda não foi divulgada?

Mas a principal pergunta é a seguinte: há o risco de uma represália por parte da Al-Qaeda, organização da qual Bin Laden era líder? A CIA - Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos - já declarou que sim. Por causa disso, pode ser que a solução de um problema - o assassinato de Bin Laden - tenha dado início a um outro problema: o do constante sentimento de insegurança por parte dos americanos. Além disso, parte da imprensa trata como indefinida a situação comercial entre EUA e oriente médio. É esperar para ver.